A alegria de comprar uma moto zero km é inigualável, mas quem precisa
economizar pode encontrar boas opções no mercado de usadas. Com o mesmo
valor de uma nova dá até para levar um modelo maior, mais equipado ou
sofisticado.
Dizem que, assim que sai da revenda, qualquer motocicleta zero km
perde cerca de 20% de seu valor. O percentual é um exagero, mas bastam
poucas centenas de quilômetros marcados no hodômetro para provocar
depreciação. Motos seminovas, chamadas de "filés" no mercado, são raras,
difíceis de encontrar. O mais comum é ter de optar por uma moto com um
ou mais anos de uso. Seja qual for a alternativa, a moto usada sempre
traz certo risco, se a compra não for feita de uma pessoa conhecida,
como parente ou amigo.
Realizar a compra em concessionárias autorizadas e lojas
especializadas de renome ajuda a evitar dores de cabeça, até porque elas
costumam oferecer garantia. Caçar a sua futura moto em anúncios dos
particulares pode ser ainda mais vantajoso em termos de preço, mas
requer cuidado e atenção redobrada. Um olhar atento antes da conclusão
do negócio evita muitos problemas.
Veja abaixo dez itens importantes para checar antes de fechar negócio:
1) Documentação
Por meio do número do Renavam,
que está em todo documento de veículos no Brasil, é possível verificar
dados sobre o proprietário e endereço, além de saber se há alienação (se
o veículo está financiado), se tem multas etc. Despachantes cobram por
este tipo de pesquisa, mas ela pode ser feita sem custo pela internet
nos sites do departamento de trânsito (Detran) do estado em que a moto
está licenciada. Importante também, estando cara a cara com a moto, é
verificar a aparência da marcação do chassi na coluna da direção e o
lacre da placa. Não deve haver nenhum tipo de adulteração.
2) Mecânica
Mesmo sem grande conhecimento de
mecânica, é possível saber se um motor está saudável ou não dando a
partida com ele 100% frio (verifique a temperatura colocando a mão no
motor ou no escape). Nesta condição, ele deve pegar facilmente e não
apresentar ruídos metálicos que sumam depois de alguns segundos, o que
indica folga excessiva em componentes fundamentais como
virabrequim/bielas, pistões e sistema de válvulas e seu acionamento.
Fumaça saindo do escapamento pode até ser considerada normal,
especialmente em dias frios, pois ela não será fruto da tão temida
queima de óleo, mas sim da simples condensação. Se, após alguns minutos
de aquecimento, o escape continuar fumando e se a fumaça for azulada e
aumentar com a aceleração, corra: é óleo queimado, sinônimo de motor
cansado no fim de vida.
3) Óleo
Na maioria dos modelos, a vareta (ou
visor) do nível de óleo é de fácil acesso. Ele deve estar no nível
certo, mas é a tonalidade do óleo e, principalmente, a sua consistência
que revelam o estado do motor.
Óleo claro demais significa novo, recém trocado. Em geral, óleo
escuro é óleo usado, mas atualmente os lubrificantes têm aditivos
detergentes que agem de modo rápido e, em motores mais rodados, o óleo
escurecer rapidamente pode ser considerado algo normal.
Então, como checar a qualidade? Donos relaxados por vezes optam pela
economia de, em vez de trocar o óleo, completar o nível. Com isso, o
óleo vai engrossando e perdendo suas características lubrificantes.
Pingue uma gota de óleo na ponta do indicador e com o polegar analise a
consistência: se parecer graxa e sujar demasiadamente seus dedos (e
cheirar a gasolina), é óleo velho ou óleo com especificação errada, mais
grosso, colocado justamente para disfarçar os barulhos metálicos "do
mal" citados no item anterior.
4) Sinais de desmontagem
Motores de motocicletas
são expostos e, por isso, facilitam uma análise importante, relacionada a
marcas de desmontagem. Parafusos e porcas estão ali bem na sua cara, e
considerando que é praticamente impossível desmontar um motor sem deixar
marcas nesses componentes, ver sinais ou, o oposto, ver parafusos e
porcas cujo metal pareça ser bem mais novo do que as partes metálicas ao
redor é algo para se desconfiar. Outra verificação recomendada é no
cárter, a parte de baixo do motor, a mais próxima do solo. Marcas de
raspadas são aceitáveis; os amassados, não, e muito menos "cicatrizes"
deixadas por soldagem.
5) Tinta
Brilho na pintura pode indicar um dono
cuidadoso ou uma moto recém-pintada. Nesse caso, é necessário saber por
qual razão ocorreu a repintura. Bom senso também ajuda para lembrar que,
se a moto tem um ou dois anos de uso, e quilometragem relativamente
baixa, faz sentido a pintura parecer quase nova. Porém, se a moto tiver
quilometragem abundante e bons anos no lombo, milagre não existe. Assim,
marcas de desgaste, riscos e até pequenos amassadinhos devem fazer
parte do conjunto.
6) Pedaleiras, manoplas e manetes
Esses são os
componentes onde tocam as mãos e pés do motociclista. Eles devem mostrar
marcas de uso coerentes com a quilometragem e a idade da motocicleta.
Uma manopla com pequenos ralados nas extremidades é algo natural, assim
como a ponta dos manetes de embreagem e freio dianteiro terem leves
arranhões. Já uma manopla muito ralada e um manete com a ponta torta, ou
limada, indica tombo. Pedaleiras tortas ou com borracha raspada também
denunciam facilmente se houve contato imediato do 1º grau com o chão. De
novo, é preciso ter coerência: moto gasta com tais componentes muito
novos é algo suspeito.
7) Comandos
Mesmo que você não conheça o modelo
da moto pelo qual está interessado, lembre-se que nenhum fabricante é
sádico e que, portanto, acelerador e embreagem não podem ser duros
demais para serem acionados. Embreagem dura é sinal claro de fim de vida
útil. Acelerador duro pode indicar problemas no cabo ou algo ainda
pior, resultante de montagens e desmontagens desatentas. Quanto ao
câmbio, os engates devem ser fáceis e "secos", e as marchas não podem
escapar, o que pode apontar para um câmbio maltratado.
8) Banco
Moto usada deve ter um banco com cara de
usado, assim como o contrário. É preferível uma capa de banco original
desgastada a uma novinha, seja original, seja do mercado paralelo. A
troca deste componente pode ser indício de um acidente considerável,
pois o que normalmente é afetado em tombinhos menores são outras partes,
nunca o banco.
9) Painel e sistema elétrico
Tudo deve funcionar,
certo? Certo! Especialmente as chamadas "luzes-alerta". Modelos de
motos mais básicas têm um conjunto de luzes essencial e que indicam
coisas simples, como farol alto e pisca-pisca ligado. Já motos mais
modernas ou maiores têm luzes para alertar sobre coisas importantes,
como pressão do óleo ou problemas no sistema de injeção. Ao girar a
chave, é usual que todas as "luzes-alerta" acendam para mostrar que suas
lâmpadas funcionam, para depois se apagarem. Caso uma luz importante
não acenda - ou pior, fique acesa direto -, problema sério à vista.
O símbolo à direita (em amarelo) diz respeito a problemas na parte
eletrônica do motor (como a injeção). Nesse caso, quando a luz permanece
acesa, não é obrigatório parar imediatamente, mas é preciso levar logo a
moto para o mecânico identificar a falha.
10) Acessórios
Baús, bauletos, bolsas laterais,
faróis auxiliares, guidões, espelhos e manetes especiais são alguns dos
possíveis acessórios e componentes instalados para tornar a moto mais
prática ou personalizada. Para que nada disso seja fonte de problemas,
observe bem a qualidade da instalação e dos componentes.
Em primeiro lugar, nenhuma instalação ou adaptação deve modificar
partes estruturais da moto, com o chassi ou o suporte do assento.
Lembre-se que, em primeiro lugar, deve vir a funcionalidade. Por
exemplo, os espelhos retrovisores devem servir para ver o que se passa
atrás de você e não apenas serem bonitinhos. A regra também vale para
comandos imprescindíveis como os manetes e o guidão.